A propósito das Confrarias

A origem das Confrarias remonta à Idade Média, bem se compreendendo que, então, estas tenham sido criadas com o intuito de aportar um espaço onde as vocações de cariz filosófico, religioso, artístico (mesteirais), entre outras, pudessem partilhar ideais comuns na defesa de um conceito, de uma religião, de um Santo devoto, de um produto ou de uma região.

Hoje, não é menos verdade, que estas associações, sem perder o seu fito original, são cada vez mais solicitadas no sentido de darem uma resposta capaz aos novos desafios que a sociedade global impõe. É este o nosso desígnio.

A Confraria de Chaves foi constituída por escritura pública em novembro de 2008 e teve como objetivos principais: a promoção dos produtos regionais; a divulgação da região flaviense em atividades gastronómicas e culturais no país e no estrangeiro; a gestão de produtos e marcas comerciais, eventos gastronómicos e culturais, constituindo-se como um “forte e decisivo polo dinamizador e divulgador dos produtos tradicionais, e, de uma forma geral, dos usos, costumes e tradições da região Flaviense”.

Desde a sua constituição, e contando com a total dedicação dos diferentes responsáveis, foram sendo adotadas as medidas necessárias e ajustadas aos diferentes tempos e desafios. Hoje, numa conjuntura económica deveras difícil, e em que todos sentimos que é necessário repensar os conceitos económicos que vigoraram durante décadas, impõe-se estabelecer e implementar novas metodologias de trabalho e abordagens com o intuito de potenciar os recursos endógenos desta região. Escolher os fatores diferenciadores do nosso território, respeitando a tradição e a cultura ancestral, deverão constituir-se como pontos críticos de abordagem com vista não só à consolidação do nosso produto regional, como também à captação de novos mercados.

A Confraria de Chaves sempre foi e continuará a ser o motor desta via de abordagem que se quer de excelência: inventariando os produtos possíveis, publicando informação científica, prestando o apoio técnico que entenda ser conveniente e procurando parcerias institucionais. No fundo, potenciar que os produtores locais e as Instituições possam sentir e entender que a intervenção da Confraria com o “Produto Recomendado” é efetivamente uma mais-valia para a microeconomia local.

Daí a essencialidade de manter os critérios de respeito pela genuinidade e ancestralidade dos produtos, bem como os cuidados inerentes à sua confeção e higienização e o respeito pelo enquadramento legal que lhe está subjacente. Neste âmbito, a construção de um Manual de Admissão, em que se identifiquem as características do “Produto Chaves”, deverá ser um dos primeiros passos.

Com o tema “À volta do património” pretendeu-se dar início a uma série de debates, em que o património, seja ele qual for (material ou imaterial), é e será sempre uma construção coletiva, com uma dialética temporal que o caracteriza, nos diferentes períodos da sua história.

É nosso dever, como Confraria, mobilizar consciências para a sua preservação e proteção, de modo a que este venha a constituir uma herança transmissível para gerações futuras. Entendemos, também, que a divulgação do património e o potenciar de debates abertos à comunidade, incentivando estudos e linhas interpretativas ajustadas, pode contribuir para um racional desenvolvimento económico.

Como testemunho deste nosso percurso, iniciamos a produção de uma revista (cujo presente texto se insere no seu nº V), com o título “À Volta do Património”, cujo principal intuito é divulgar este nosso saber, de modo a granjear a necessária cumplicidade na defesa do “Produto de Chaves”, nas mais diversas vertentes, gastronómicas e/ou culturais.

No domínio do enquadramento social

A Confraria quis estar presente promovendo debates sobre:

  • Saúde, com “Como viver com a saúde que temos” (2015) ou “Imunidade em tempos de pós-Pandemia” (2022);
  • Dinâmicas do território, com “Políticas necessárias e possíveis para desenvolver o território” (2014);
  • Literatura, com “Referências Gastronómicas em poemas de Jerónimo Baía” (2018);
  • Tecnologia e Energias, com “Fragmentos de Chaves – Novas Tecnologias para a Valorização do Património” (2017) ou “Energias, aproveitamento eólico offshore” (2023);
  • Abordagens artísticas, de que se destacam “A Arte do Vinho e o Vinho da Arte” (2016) e um amplo debate sobre “Cultura” (2016), que contou com um painel externo de programadores culturais e agentes de cultura.

Estou certo de que quem representar a Confraria saberá sempre honrar os princípios que a norteiam.

Porque temos território que nos caracteriza, porque temos tradição que nos confere identidade, porque somos tolerantes, necessariamente teremos que ter talento para que, partilhando experiências e abrindo espaços de reflexão e de debate, se possam atingir os objetivos a que todos nos propusemos.

“ALEA JACTA EST”

Outubro, 2025
Jorge Melo
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